Entre o amor e o ódio, o que dói é a indiferença
É na indiferença que encontramos o vazio mais profundo, um espaço onde já não cabe mais nada
Vi uma foto antiga esses dias. Três crianças em um sofá: uma com auréola de anjo desenhada, outra com chifres de diabo. E eu... eu era só um ponto de interrogação. Não sei o que doeu mais — o fato de não ser boa nem ruim o suficiente pra caber num rótulo, ou o fato de simplesmente não ser. Aquela marca no meu rosto não era só uma escolha estética. Era um veredito. Eu fui a dúvida. A incógnita. A que ninguém soube onde colocar.
E desde então, esse ponto me segue. Em conversas que acabam no meio. Em mensagens não respondidas. Em olhares que passam por mim como se eu fosse parede. Em lugares onde eu chego inteira e saio invisível. Eu não quero ser perfeita. Não quero ser santa, nem vilã. Só queria ser... notada. Só queria saber que, de algum jeito, eu ocupei espaço no mundo de alguém.
A dor não está no que dizem sobre mim. Está no silêncio. No vazio. No nada. Porque quando alguém te odeia, pelo menos te sente. Quando alguém te ama, te carrega. Mas quando ninguém diz nada... é como se você nem tivesse estado lá. Como se sua existência fosse descartável, esquecível. Como se você fosse só um erro de digitação na história dos outros.
Me ame, me odeie, mas me sinta. Porque o que dói mesmo é a indiferença. Fale mal, me critique, me desenhe com dentes afiados, com olhos de tempestade, mas me veja. Não me deixe no meio, como uma dúvida que nunca se resolve. Porque ser dúvida é não existir por completo. É ser metade. É ser sombra onde poderia haver luz, ou até mesmo escuridão — mas pelo menos alguma coisa.
Tem gente que nasce pra ser lembrança. Outras pra ser lição. E tem quem só passa… e apaga. E o pior é perceber que você não foi nem lembrança, nem lição. Foi só... um borrão no fundo de uma memória que ninguém revisita. Nem pra rir, nem pra chorar. Isso dilacera. Isso te faz duvidar se vale a pena continuar tentando ser algo que o mundo insiste em não enxergar.
Eu não quero gritar por atenção. Eu só quero existir de forma tão intensa que seja impossível me ignorar. Quero que, quando lembrarem da foto, saibam exatamente quem eu fui. Que não me perguntem mais quem eu era — que saibam. Porque eu estive ali. Eu estava sentada naquele sofá. Eu ri. Eu existi. Eu importei.
A indiferença tem cheiro de esquecimento e gosto de abandono. Ela diz: “você não importa o suficiente nem pra ser ferida”. E isso corrói. Porque é mais fácil lidar com quem te fere do que com quem finge que você nunca esteve ali.
Queria ser lembrada como qualquer coisa: a engraçada, a dramática, a chata, a sensível demais. Mas ser a que ninguém define, a que ninguém cita, a que ninguém nomeia... é como estar viva e já ser fantasma.
Eu escrevo porque quero ser cravada em algum lugar. Quero deixar de ser ponto de interrogação e virar grito. Palavra em negrito. Letra que marca. Pessoa que ninguém mais consegue esquecer. Porque a pior dor não é ser odiada. É ser ignorada. A pior dor é passar pela vida das pessoas como se fosse brisa leve, quando você é tempestade.
Se não for pra ser lembrada com amor, que seja com raiva. Que me acusem de ter sido demais. Mas que sintam. Porque o que realmente dilacera não é o amor não correspondido, nem o ódio mal resolvido. É o nada. É o eco. É o "quem?"
Me ame. Me odeie. Mas me sinta. Porque o que dói mesmo... é a indiferença.
marjorie vc é uma poeta viva nessa mundo, queria tatuar esse texto todo na minha testa
"Porque é mais fácil lidar com quem te fere do que com quem finge que você nunca esteve ali." puta que pariu, marjorie.